13 de junho de 2011

Ternura


  Eu te peço perdão por te amar assim de repente
  Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos
  Das horas que passei à sombra dos teus gestos
  Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
  Das noites que vivi acalentado
  Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo
  Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente.
  E posso te dizer que o grande afeto que te deixo
  Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas
  Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...
  É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias
  E só te pede que te repouses quieta, muito quieta
  E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade o olhar
                                                                                  [extático da aurora.


   Vinicius de Moraes